Terremoto Portugal: Por Que Lisboa Voltou a Tremer Após Anos de Calmaria?

Terremoto Portugal: Por Que Lisboa Voltou a Tremer Após Anos de Calmaria?

Terremoto Portugal: Por Que Lisboa Voltou a Tremer Após Anos de Calmaria?

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Lisboa voltou a tremer com um terremoto em Portugal de magnitude 4,8 em fevereiro de 2025, apenas seis meses após um abalo ainda mais intenso de 5,4 graus. Esse novo tremor, com epicentro na Costa da Caparica a apenas 18 quilômetros do centro da capital, trouxe à tona memórias do devastador terremoto de 1755, que atingiu uma magnitude entre 8,5 e 9, resultando em dezenas de milhares de mortes.

A sequência recente de sismos levanta questões importantes sobre a segurança da cidade, especialmente considerando que estudos atuais indicam que apenas 15% das casas em Lisboa resistiriam a um terremoto de magnitude 6,5. Neste artigo, vamos explorar por que Lisboa voltou a experimentar atividade sísmica após anos de relativa calmaria e o que isso significa para o futuro da cidade.

História Sísmica de Lisboa: O Evento que Mudou a Cidade

O Impacto Devastador do Grande Terremoto de 1755

Em 1º de novembro de 1755, Lisboa enfrentou um dos piores desastres naturais da história da Europa. Um terremoto de magnitude estimada entre 8,7 e 9 na escala Richter abalou a cidade por três minutos. Esses momentos de destruição não apenas devastaram a capital portuguesa, mas também transformaram o pensamento científico e as abordagens para a engenharia sísmica.

Reconstruindo Lisboa: A Primeira Cidade Sísmica do Mundo

Segundo Mário Lopes, vice-presidente do Instituto de Engenharia de Estruturas, Território e Construção do Instituto Superior Técnico, o processo de reconstrução tornou Lisboa pioneira no mundo. A cidade foi a primeira a ser planejada e construída com medidas para resistir a sismos, um marco histórico para a engenharia e a urbanização global.

O epicentro do terremoto localizava-se entre 200 e 300 quilômetros a sudoeste de Lisboa, no Oceano Atlântico. Posteriormente, um tsunami com ondas de até 20 metros de altura invadiu a costa portuguesa, seguido por incêndios que duraram cinco dias. Dessa combinação catastrófica resultou a morte de aproximadamente 90 mil pessoas, representando cerca de 30% da população lisboeta da época.

A destruição foi massiva: 85% das construções foram arrasadas, incluindo 32 igrejas, 60 capelas, 31 mosteiros, 15 conventos e 53 palácios. Além disso, a Biblioteca Real perdeu 70 mil volumes de obras raras, e o Hospital Real de Todos os Santos foi consumido pelas chamas.

A reconstrução de Lisboa introduziu inovações significativas na arquitetura antissísmica, como a “gaiola pombalina” – uma estrutura tridimensional de madeira incorporada às paredes de alvenaria. Essas técnicas revolucionárias influenciaram o desenvolvimento da engenharia civil e continuam relevantes até hoje.O Marquês de Pombal, então secretário de Estado, conduziu o primeiro estudo científico sistemático de um terremoto, enviando questionários detalhados a todas as paróquias do país. Essa iniciativa pioneira estabeleceu as bases para a compreensão moderna dos fenômenos sísmicos.

A reconstrução de Lisboa introduziu inovações significativas na arquitetura antissísmica, como a “gaiola pombalina” – uma estrutura tridimensional de madeira incorporada às paredes de alvenaria. Essas técnicas revolucionárias influenciaram o desenvolvimento da engenharia civil e continuam relevantes até hoje.

Impacto nas Construções Modernas em Lisboa: A Realidade da Vulnerabilidade Sísmica

Construções Antigas e Risco Sísmico

Lisboa enfrenta um desafio significativo em relação à vulnerabilidade sísmica de seus edifícios. Atualmente, 68% das construções na Área Metropolitana de Lisboa foram erguidas antes da implementação de uma legislação eficaz de proteção sísmica. Deste total, 40% são anteriores a 1945, e 20% foram construídas antes de 1919. Esses números evidenciam um cenário preocupante, especialmente em face de possíveis abalos sísmicos.

Regulamentações Recentes e Reforço Estrutural

Desde 2019, entraram em vigor novas regulamentações que exigem a avaliação da vulnerabilidade sísmica em intervenções estruturais significativas. Quando a avaliação não atinge os critérios necessários, o reforço sísmico da estrutura passa a ser obrigatório, garantindo maior segurança para os edifícios.

Áreas Mais Vulneráveis da Cidade

Entre as regiões com maior vulnerabilidade sísmica em Lisboa, destacam-se:

  • Avenida da Liberdade
  • Vale de Alcântara
  • Avenida Almirante Reis
  • Vale de Chelas
  • Área do Hospital São José

Essas zonas são consideradas de maior risco e exigem atenção especial para prevenção e mitigação de desastres.

Um estudo recente utilizando o simulador Quake IST revelou dados alarmantes: de 27.144 casas de alvenaria em Lisboa, 9.084 ficariam reduzidas a escombros num cenário de terremoto de magnitude 6,5. Das 20.668 residências de concreto armado, 3.221 se tornariam inabitáveis.

A fiscalização das construções permanece um desafio significativo. O sistema atual baseia-se apenas em termos de responsabilidade assinados pelos projetistas, sem verificação técnica independente. Esta situação torna-se ainda mais crítica considerando que muitas edificações sofrem alterações estruturais sem o devido acompanhamento técnico, como a remoção de paredes e pilares.

Preparação de Lisboa Para Futuros Sismos: Estratégias e Medidas de Segurança

 

 

O Programa ReSist: Um Plano Abrangente Contra Terremotos

O Serviço Municipal da Proteção Civil de Lisboa desenvolveu uma estratégia robusta para reduzir os impactos de futuros abalos sísmicos. O programa ReSist, composto por 47 ações específicas, foca na avaliação da vulnerabilidade tanto do parque edificado quanto das infraestruturas urbanas. Essa abordagem proativa visa identificar e mitigar os principais riscos antes que um evento sísmico ocorra.

Desafios das Estruturas Existentes

De acordo com o especialista em sismologia José Paulo Costa, muitas edificações históricas em Portugal ainda não foram reabilitadas conforme os padrões de segurança sísmica atuais. Essas estruturas podem não atender aos requisitos regulamentares modernos, particularmente em zonas suscetíveis a intensa atividade sísmica. Esse cenário reforça a urgência de investimentos em reforço estrutural e reabilitação.

Rede de Pontos de Encontro e Iniciativas Tecnológicas

Lisboa estabeleceu uma abrangente rede de 86 Pontos de Encontro de Emergência distribuídos por todas as freguesias. Esses locais foram escolhidos com base em critérios rigorosos, como exposição a riscos naturais e a capacidade de atender grandes grupos de pessoas em situações de emergência. Além disso, ferramentas como a plataforma LxResist e os Avisos Lisboa SMS foram criadas para fornecer informações personalizadas e em tempo real sobre segurança durante crises.

Planejamento Local: O Papel das Juntas de Freguesia

As juntas de freguesia desempenham um papel essencial no planejamento e na execução de medidas locais de segurança. Atualmente, Avenidas Novas, Beato e Belém estão desenvolvendo novos planos locais, enquanto Arroios e Olivais trabalham na atualização de documentos anteriores. Essa colaboração fortalece a resiliência da cidade perante futuros eventos sísmicos.

  • Terremotos com epicentro na região metropolitana de magnitude igual ou superior a 6.1 na Escala Richter
  • Eventos sísmicos com intensidade máxima igual ou superior a VIII na Escala Mercalli

Simultaneamente, as juntas de freguesia desempenham papel fundamental no planejamento local. Atualmente, três freguesias – Avenidas Novas, Beato e Belém – elaboram seus planos locais, enquanto Arroios e Olivais atualizam documentos anteriores.

Portanto, especialistas enfatizam que as primeiras 72 horas após um terremoto são cruciais para resgate e socorro. A cidade conta com dois simuladores de cenários sísmicos que permitem estimar consequências baseadas no local do epicentro e magnitude, auxiliando no desenvolvimento de estratégias preventivas mais eficazes.

Conclusão

Portanto, Lisboa enfrenta um momento crucial em sua história sísmica. Os recentes tremores de 2025 servem como um alerta importante sobre a necessidade de fortalecer a infraestrutura da cidade. Certamente, o legado do terremoto de 1755 nos ensinou lições valiosas, mas os dados atuais mostram que ainda existe um longo caminho pela frente.

A vulnerabilidade de grande parte das construções lisboetas demanda ação imediata. Assim, medidas como o programa ReSist e a implementação dos Pontos de Encontro de Emergência representam passos significativos na direção certa. A cidade demonstra estar mais preparada do que nunca, com sistemas de alerta, planos de emergência bem estruturados e uma rede de apoio organizada.

O desafio atual não se limita apenas à preparação governamental. A segurança sísmica de Lisboa depende também da conscientização e participação ativa de seus cidadãos. Proprietários de imóveis precisam considerar seriamente o reforço estrutural de suas edificações, especialmente nas zonas mais vulneráveis da cidade.

A história nos mostra que terremotos são imprevisíveis, mas seus impactos podem ser minimizados com preparação adequada. Lisboa tem as ferramentas e o conhecimento necessários para enfrentar futuros desafios sísmicos – resta agora garantir que essas medidas sejam efetivamente implementadas e mantidas.

silasandre30@outlook.com

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